A História de Jerusalém

Jerusalém, uma das metrópoles mais proeminentes do globo, é frequentemente envolta em controvérsias devido ao seu estatuto sagrado para três religiões distintas: judaísmo, islamismo e cristianismo.



Jerusalém, uma das metrópoles de maior importância global, encontra-se no centro de numerosas controvérsias de natureza política e religiosa. Sob a administração do Estado de Israel na atualidade, a cidade é considerada sagrada por três grandes religiões: judaísmo, cristianismo e islamismo.


No âmbito político, a polêmica reside no fato de que tanto israelenses quanto palestinos reivindicam Jerusalém como sua capital. Essa controvérsia não é exclusiva dos tempos atuais, uma vez que ao longo de sua história a cidade foi palco de disputas e conquistas por diversos povos.


Sua Fundação

Os estudiosos não possuem informações precisas sobre os primeiros habitantes de Jerusalém, tornando-se desafiador determinar a data exata de sua fundação. Os registros arqueológicos mais antigos descobertos na cidade consistem em cerâmicas datadas de aproximadamente 3200 a.C. Nesse mesmo período, outras grandes cidades cananeias surgiram, embora ainda seja difícil estabelecer com exatidão o momento exato em que Jerusalém teve sua origem.


A obtenção de informações sobre os primeiros anos da história de Jerusalém é um desafio devido à escassez de evidências disponíveis. No entanto, os historiadores têm conhecimento de que por volta do século XX a.C., a região de Canaã começou a ser influenciada pelos egípcios. Artefatos datados de 1800 a.C. foram encontrados próximos às muralhas descobertas em partes de Jerusalém.

A primeira menção conhecida a Jerusalém é encontrada em um conjunto de vasos egípcios usados em um ritual de maldição contra a cidade. No entanto, os motivos pelos quais os egípcios amaldiçoavam Jerusalém são desconhecidos, já que a cidade não ocupava uma posição proeminente em Canaã.

Nos artefatos egípcios, Jerusalém é mencionada como "Rushalimum", indicando a influência da religião síria sobre Canaã, apesar do domínio político exercido pelos egípcios. O termo "Rushalimum" significa "Shalem fundou", e Shalem era um dos principais deuses da mitologia cananeia. De acordo com a historiadora Karen Armstrong, esses artefatos egípcios levaram os historiadores a concluir que, por volta do século XVIII a.C., Jerusalém já possuía um poder centralizado na figura de um rei.

Após o registro feito pelos egípcios, pouco se sabe sobre o que aconteceu em Jerusalém entre os séculos XVIII a.C. e XIV a.C. Alguns historiadores sugerem que a cidade tenha sido despovoada nesse período. Portanto, informações confiáveis sobre Jerusalém só surgiram após o século XIV a.C.

É sabido que os egípcios mantiveram influência em Canaã e que, a partir do século XV a.C., tiveram que lidar com os hurritas, um povo da Mesopotâmia que invadiu Canaã. É muito provável que os hurritas tenham exercido alguma influência sobre Jerusalém, uma vez que a cidade teve um governante com um nome de origem hurrita.

Por volta do século XIV a.C., documentos egípcios mencionam inúmeras guerras entre as cidades-estado cananeias. No entanto, essas guerras não receberam muita atenção dos egípcios, que estavam mais preocupados em combater os hititas, um povo que havia formado um império na região da atual Turquia.

Foi provavelmente nesse contexto que os jebuseus estabeleceram-se em Jerusalém. Alguns historiadores afirmam que eles chegaram a Canaã no século XIII a.C., enquanto outros sugerem que isso ocorreu no século XII a.C. Os jebuseus chamavam Jerusalém de Jebus e dominaram a cidade até o ano 1000 a.C., quando os hebreus, liderados por Davi, rei do Reino de Israel, a conquistaram.


Dominação dos Hebreus


Após a conquista pelos hebreus, Jerusalém foi estabelecida como a capital do Reino de Israel. Davi alterou o nome da cidade para Ir Davi, que significa "cidade de Davi", e ordenou a construção de um templo para abrigar a Arca da Aliança, um artefato sagrado para os hebreus. O templo foi concluído em 950 a.C., durante o reinado de Salomão, filho de Davi, e ficou conhecido como o Templo de Salomão.

O reinado de Salomão foi um período de grande prosperidade para o Reino de Israel. Após sua morte, a monarquia dos hebreus continuou por alguns séculos. A partir do século VIII a.C., Jerusalém passou a ser dominada por diferentes povos. Em 733 a.C., tornou-se uma cidade vassala dos assírios e, posteriormente, foi conquistada pelos caldeus e persas.

A conquista dos caldeus resultou na destruição do Templo de Salomão e no despovoamento de Jerusalém a partir de 586 a.C. Após a derrota e conquista dos caldeus pelos persas, os hebreus que haviam sido levados como escravos para a Babilônia foram autorizados a retornar à sua terra natal e reconstruíram o templo em 515 a.C.

Séculos depois, com a derrota dos persas pelos macedônios, Jerusalém passou para o controle deste povo. Após a morte de Alexandre, o Grande, a região da Palestina, onde Jerusalém está localizada, foi disputada pelos ptolomeus e selêucidas. Entre 167 a.C. e 40 a.C., a cidade foi dominada por uma dinastia independente de judeus, conhecida como a dinastia asmoneia.

Entre 40 a.C. e 37 a.C., a Palestina foi controlada pelos partos. A partir de 37 a.C., a região foi oficialmente conquistada pelos romanos, que, liderados por Herodes, enviaram uma força que conquistou Jerusalém no mesmo ano. Com a conquista, os romanos efetivamente controlaram a Palestina, onde já tinham certa influência.

Durante o período em que os romanos conquistaram Jerusalém e a Palestina, ocorreram duas revoltas organizadas pelos judeus na região. Em 70 d.C., como consequência de uma dessas revoltas, os romanos impuseram um cerco que durou seis meses e, em 134 d.C., após um novo conflito, decretaram a expulsão de todos os judeus de Jerusalém.

Saiba mais

O Início de Jerusalém


Após a queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.C., Jerusalém passou a ser dominada pelo Império Romano do Oriente, também conhecido como Império Bizantino. Entre 614 e 628, o controle bizantino sobre a cidade foi desafiado pelos sassânidas, mas após catorze anos, os bizantinos conseguiram reconquistá-la.

Em 637, o domínio bizantino sobre Jerusalém chegou ao fim quando a cidade foi conquistada pelas tropas lideradas pelo califa Omar, do Califado Ortodoxo. Nesse ano, o patriarca da cidade, chamado Sofrônio, negociou a rendição de Jerusalém a Omar e suas tropas. Apesar da conquista, judeus e cristãos receberam permissão para continuar praticando sua religião, desde que pagassem um imposto.

Essa garantia de liberdade religiosa foi mantida em Jerusalém até o século XI, quando o califa egípcio al-Hakim ordenou a perseguição aos cristãos e judeus. Durante seu califado, em 1009, uma ordem foi emitida para destruir todas as igrejas cristãs, incluindo a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém.

Em 1905, durante o Concílio de Clermont, o papa Urbano II convocou as Cruzadas em resposta aos interesses da Igreja Católica. Quatro anos depois, as tropas cristãs estavam à beira de Jerusalém, prontas para conquistar a cidade.

O ataque a Jerusalém começou em 13 de julho de 1099, resultando em sua conquista pelos cristãos. O governante de Jerusalém, Iftikhar al-Dawla, conseguiu escapar após negociar um salvo-conduto que lhe garantiu a vida. No entanto, o restante da população foi vítima de um massacre perpetrado pelas tropas cristãs que tomaram a cidade.

Posteriormente, em 1187, Jerusalém foi conquistada por Saladino, líder dos aiúbidas. Em 1229, o sultão do Egito, al-Kamil, negociou um acordo com o rei do Sacro Império Romano-Germânico e entregou a cidade aos cristãos, com a condição de que eles não reconstruíssem as muralhas da cidade. No entanto, em 1244, os aiúbidas reconquistaram Jerusalém e, em 1260, a cidade caiu nas mãos dos mamelucos. Em 1517, o domínio mameluco chegou ao fim com a conquista de Jerusalém pelos otomanos, que permaneceram no controle até 1917.


Jerusalém após 1900

Após a Primeira Guerra Mundial, os otomanos foram derrotados e o Império Otomano foi dissolvido. A região da Palestina passou para o controle britânico entre 1917 e 1920, estabelecendo-se como Palestina Britânica. A promessa britânica de criar um estado nacional tanto para os judeus quanto para os palestinos levou ao surgimento de um conflito entre as duas comunidades.

O movimento sionista, que buscava a criação de um estado judeu na Palestina, ganhou força no final do século XIX, impulsionado pelo antissemitismo na Europa. Milhares de judeus começaram a migrar para a Palestina e estabelecer-se nas cidades da região, incluindo Jerusalém.

Os árabes palestinos, que ocupavam a região há séculos, esperavam que seu próprio estado nacional fosse estabelecido na Palestina, conforme prometido pelos britânicos. No entanto, com a percepção de que os britânicos não cumpririam sua promessa e de que os judeus reivindicavam a mesma região, um movimento nacionalista árabe surgiu na Palestina para defender os interesses dos árabes palestinos.

O conflito entre árabes e judeus pelo controle da Palestina intensificou-se, e os britânicos entregaram a questão à Organização das Nações Unidas (ONU) em 1947. A ONU decidiu pela divisão da Palestina em dois estados, um para árabes e outro para judeus, com Jerusalém sob controle internacional.

No entanto, os países árabes rejeitaram a decisão da ONU, e em 1948, quando Israel foi oficialmente fundado, a Primeira Guerra Árabe-Israelense teve início. Os palestinos sofreram perdas territoriais significativas e Jerusalém foi dividida entre israelenses e jordanianos.

Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel conquistou Jerusalém Oriental, unificando a cidade sob o controle israelense. Desde então, Israel considera Jerusalém como sua capital indivisível, embora a comunidade internacional não reconheça plenamente essa anexação e considere Jerusalém Oriental como território ocupado.

O conflito entre israelenses e palestinos em relação a Jerusalém e à região da Palestina continua até os dias atuais, envolvendo disputas territoriais, religiosas e políticas complexas. A questão de Jerusalém permanece como um dos pontos centrais do conflito, com ambas as partes reivindicando-a como sua capital. Os esforços para alcançar uma solução pacífica e duradoura têm sido objeto de negociações e iniciativas internacionais, mas até agora uma resolução definitiva ainda não foi alcançada.